O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) acaba de divulgar o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) de 2022 para os Estados brasileiros. Regra geral, os Estados apresentaram um desempenho satisfatório, dado que 24 das 27 unidades da federação registraram um incremento em suas produções, quando comparadas com o ano anterior. Não custa lembrar que o PIB representa todos os bens e serviços produzidos em um ano específico e, feitas as ressalvas para que tenhamos uma definição econômica precisa, pode ser melhor entendido como a geração de “riqueza” de uma economia.
Nesse contexto de elevação produtiva generalizada, a Paraíba se destacou nacionalmente. Com um crescimento de 5,6%, sexto maior no Brasil, o Estado cresceu quase duas vezes a média nacional (que foi de 3%). No Nordeste, só o Piauí apresentou uma taxa maior, 6,2%. Evidente que o número merece ser comemorado, mas deixo os confetes um pouco de lado para convida-los a uma reflexão um pouco mais profunda.
Em valores nominais, o PIB paraibano atingiu R$ 86 bilhões. Esse valor representa cerca de 0,9% da produção nacional. Vale lembrar, que nossa população representa pouco mais de 2% da população nacional, portanto, nossa contribuição para a geração de “riqueza” no Brasil está bem abaixo de nossa participação populacional. O mais grave é que essa participação tem-se mantido estável ao longo dos anos. Nesse sentido, torcemos para que o crescimento mais forte da economia da Paraíba em 2021 e 2022 signifique um processo de ganho de espaço no PIB nacional. Mas para isso, precisamos atentar para uma outra característica de nosso sistema produtivo: a decomposição do nosso PIB.
Quando observamos quais os componentes que explicam o volume produzido na Paraíba nos deparamos com um grande desafio: um terço da economia paraibana é fruto da administração pública. Ou seja, são os cargos públicos, salários e demais benefícios ligados ao setor que puxam grande parte da nossa economia. É de conhecimento geral que o setor público não gera riqueza, pelo contrário, um setor público grande demanda mais impostos e sufoca o investimento privado. Para promovermos um crescimento sustentável da economia paraibana é preciso ampliar a participação de setores de tecnologia, serviços e indústria, mas os sinais atuais não são promissores.
A título ilustrativo, a indústria de transformação só possui 7% de participação na economia paraibana. E o mais grave, não estamos registrando avanços nessa área. Enquanto o Nordeste viu crescer a participação da sua indústria no valor adicionado da indústria nacional entre 2010 e 2022 (de 9% para quase 14%), a Paraíba registrou um declínio no mesmo período (de 0,6% para cerca de 0,4%).
Possuímos uma alta dependência de programas sociais. Para cada dez domicílios paraibanos com algum membro no mercado formal, temos 13 domicílios com pessoas no programa bolsa família. Quase 50% da força de trabalho é informal, número bem acima da média nacional (de 38%). Possuímos uma renda baixa e altamente concentrada. Os últimos dados do IBGE apontam a Paraíba como o Estado mais desigual do Brasil (índice de Gini de 0,56). Se fossemos um país, seríamos a quinta nação mais desigual do mundo, só atrás de África do Sul, Namíbia, Zâmbia e República Centro Africana.
Como podemos notar, ainda há muito a ser feito. Nossa condição atual não permite que percamos tempo comemorando um bom resultado. Temos que ir muito além do mero crescimento pautado em transferências governamentais. Ainda somos um Estado com renda, mas sem produção.
*Erik Figueiredo – economista paraibano, ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e atual diretor do Instituto Mauro Borges (IMB).