Com mais de 4,7 mil atletas de até 17 anos, representando todas as 27 unidades da Federação, os Jogos da Juventude CAIXA Brasília 2025 entraram para a história como a maior edição já realizada do evento organizado pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB). Durante quase duas semanas, as competições se espalharam por 12 instalações da capital federal, transformando Brasília no epicentro do esporte de base do país.
Mais do que um torneio, os Jogos da Juventude se consolidaram como uma das principais portas de entrada para jovens talentos rumo ao alto rendimento. Nomes consagrados do esporte brasileiro (como Alison dos Santos “Piu”, Mayra Aguiar, Sarah Menezes, Duda Amorim e até o atacante Rodrygo, da Seleção Brasileira de futebol) já passaram por essa competição em seus primeiros passos de carreira.
Nesta edição, além das conquistas esportivas, o evento foi palco de histórias de superação, descobertas de novos talentos, encontros inspiradores entre ídolos e jovens atletas. Houve ainda momentos emocionantes que reforçaram a essência do movimento olímpico: união, amizade e respeito.
Emoções que extrapolam o esporte
Nem todas as vitórias foram medidas em pódios. O paraense Victor Gabriel Silva, do handebol, emocionou ao relatar como encontrou no esporte um aliado para vencer a depressão diagnosticada aos 10 anos. Em Brasília, aos 16, vibrou por viver seu sonho e agradeceu: “Hoje não penso mais em coisas ruins. O handebol mudou a minha vida.”
Na ginástica rítmica, a pernambucana Fernanda Barreto, de 14 anos, competiu dias após perder a mãe para um câncer raro. Transformou a dor em força e dedicou cada movimento como homenagem, sob os olhares atentos do pai e da treinadora.
Outra história que encantou foi a do roraimense Mitsurraro Morikawa, descendente de indígenas e japoneses, que sequer conhecia as regras do badminton há pouco mais de um ano. Morador de uma vila com pouco cerca de mil habitantes, surpreendeu ao chegar às quartas de final no individual masculino.
Rivalidade saudável na ginástica rítmica
Dois nomes brilharam no tablado e dividiram atenções: Sarah Mourão (MG) e Beatriz Vieira (SP). Rivais em competição, mas amigas fora dela, somaram sete medalhas nesta edição. Sarah, em sua despedida dos Jogos, encerrou a trajetória com nove medalhas conquistadas em três participações. Beatriz, com apenas 14 anos, desponta como a nova promessa da modalidade. “É uma rivalidade boa, porque somos muito amigas”, resumiu Sarah.
Os collants criativos também foram protagonistas. Atletas como Lara Santos e Julia Soares desenharam seus próprios figurinos, transformando o vestuário em extensão de sua identidade dentro do tablado. “Quando visto meu collant, me sinto uma diva, muito poderosa”, disse Julia.
Judô: tradição, representatividade e reencontros
A baiana Mila Oliveira, de 15 anos, conquistou o primeiro ouro da Bahia na categoria 44kg, e emocionou ao celebrar a força do seu estado: “A Bahia está cheia de talentos que precisam de visibilidade.” O Amapá foi destaque com Khristopher Lemos, que realizou o sonho de conhecer o ídolo João Derly, bicampeão mundial e hoje técnico da equipe gaúcha.
O Rio de Janeiro terminou como campeão geral do judô, com 13 medalhas e seis ouros, coroado pelo título por equipes. A vitória teve sabor especial com as irmãs Pereira em destaque: Gabriela, ouro no individual, e Sarah, que substituiu a irmã lesionada e ajudou a garantir o triunfo coletivo.
E o futuro já aponta para conquistas maiores: a carioca Clarisse Vallim, campeã mundial cadete até 70kg, estreou nos Jogos com ouro e chamou atenção de perto de Maria Portela, ex-líder do ranking mundial e hoje técnica da base.
Badminton: conquistas inéditas e famílias unidas
O Piauí celebrou a primeira medalha de ouro da sua história nos Jogos da Juventude com Fhelipe Lennon, campeão no simples masculino. Aos 17 anos, ele já tinha dois ouros em duplas, mas se despediu do evento com a conquista mais sonhada. Emocionado, destacou o papel da família, que respira badminton e já revelou a prima Juliana Viana, primeira brasileira a vencer uma partida olímpica da modalidade.
Taekwondo: união e superação
A equipe da Paraíba mostrou que, no taekwondo, ninguém luta sozinho. O grito coletivo da torcida impulsionou atletas como Ellen Tainara e Ana Letícia ao pódio, e inspirou jovens como Rikelvin, em sua despedida, e Kauan, de apenas 15 anos, estreando no evento. Já o catarinense Nicolas Kalkmann, bicampeão, relembrou a luta contra uma infecção óssea grave que quase encerrou sua carreira. Hoje, celebra a superação e sonha com os Jogos Olímpicos da Juventude de Dakar 2026.
Vôlei: tradição, versatilidade e acolhimento
O vôlei reafirmou sua força. No masculino, o mineiro Luís Gustavo Ribeiro, capitão de 1,98m, tornou-se referência de acolhimento no time misto formado no Praia Clube de Uberlândia. Fora das quadras, sua mãe Lidiane foi apelidada de “mãe do time”, cuidando dos colegas como filhos.
No feminino, a final colocou frente a frente Paraná e São Paulo. As paranaenses, lideradas por veteranas como Clara Lawrenz e Catherine Iaschombek, buscaram o bicampeonato. Do outro lado, São Paulo mostrou sua versatilidade com atletas adaptadas em várias funções, como Eduarda Zeni e Heloísa Benvindo. Emoção até o último ponto.
Handebol: resgate e evolução
No feminino, a Bahia deu exemplo de superação. Última colocada em 2024, a equipe de Juazeiro voltou a Brasília com vitórias, empolgação e o sonho de medalha. “Queremos mostrar que a Bahia pode ir além”, disse Eloísa de Souza.
O Espírito Santo, com nomes como Yuri Lopes e as gêmeas Lohanny e Lohenn Prates, celebrou vaga na elite da competição e emocionou ao dedicar o feito ao irmão Sayllon, já falecido, primeiro incentivador delas no handebol.
No masculino, o Distrito Federal fez da torcida um diferencial para avançar às semifinais. “Jogar em casa, com os pais e amigos na arquibancada, é uma sensação maravilhosa”, destacou Henrique Ramalho.
Vôlei de praia: uma história de cinema
A treinadora Andrezza Chagas, ex-atleta olímpica que já defendeu a Geórgia em Pequim 2008, comandou a dupla da Paraíba ao título da 2ª divisão, emocionando ao unir passado olímpico e presente formador.
Na 1ª divisão, os ouros ficaram com Santa Catarina (feminino) e Mato Grosso do Sul (masculino), em finais de altíssimo nível.
Imersão e legado
Os Jogos também foram palco para o “JJ Experience”, iniciativa inédita que recebeu mais de 70 autoridades, gestores e representantes do esporte brasileiro. Eles vivenciaram os bastidores da competição, reforçando a importância do evento como vitrine de talentos e laboratório de formação. “Foi uma ação que mostrou a dimensão real dos Jogos. Muitos saíram daqui impressionados”, avaliou o COB.
Um futuro promissor
Brasília se despede dos Jogos da Juventude CAIXA 2025 deixando marcas que vão muito além das medalhas: amizades, aprendizados, conquistas pessoais e coletivas. Histórias como as de Sarah Mourão, Nicolas Kalkmann, e tantos outros reforçam o papel transformador do esporte.
Os próximos anos dirão quantos desses jovens chegarão ao alto rendimento, mas uma certeza já está gravada: o futuro olímpico do Brasil passa pelos Jogos da Juventude.
Balanço esportivo: todas as modalidades em destaque nos Jogos da Juventude CAIXA Brasília 2025
Além das histórias de superação e dos nomes que despontaram como promessas olímpicas, os Jogos da Juventude trouxeram conquistas distribuídas em todas as modalidades do programa.
Atletismo e natação: modalidades mais tradicionais dos Jogos, revelaram talentos como Paulo Marcelo (MA), que brilhou nas piscinas e ainda venceu nas águas abertas, tornando-se um dos multimedalhistas da edição.
Basquete: o Paraná levou o ouro no feminino e Santa Catarina no masculino, com jogos decididos nos detalhes.
Futsal: Santa Catarina comemorou o título masculino e medalha de bronze no feminino, reforçando sua tradição nos esportes coletivos.
Vôlei de quadra: o Paraná e São Paulo protagonizaram a final feminina, enquanto Minas Gerais e DF brilharam no masculino, em duelos de alto nível.
Vôlei de praia: Santa Catarina e Mato Grosso do Sul conquistaram os ouros da 1ª divisão, enquanto a Paraíba brilhou na 2ª divisão com Mickaellen Azevedo e Yasmin Chagas.
Handebol: o Pará emocionou com a trajetória de Victor Gabriel, enquanto a Bahia melhorou sua colocação em relação a 2024 e sonhou com medalha. Espírito Santo, RJ e AL garantiram acessos históricos.
Judô: o Rio de Janeiro confirmou a força de sua tradição, com seis ouros e o título geral, além da revelação de Clarisse Vallim (RJ), campeã mundial cadete.
Taekwondo: além da representatividade da Paraíba, Nicolas Kalkmann (SC) reafirmou seu amor pelo esporte com o bicampeonato.
Wrestling: o Rio brilhou com Lavozier Marubo, Moisés Ferreira e Kaillany Cruz, enquanto Rondônia fez história com suas primeiras medalhas.
Badminton: nomes como Fhelipe Lennon (PI) e Mitsurraro Morikawa (RR) levaram emoção para as quadras, representando estados fora do eixo tradicional.
Ginástica rítmica: Sarah Mourão (MG) e Beatriz Vieira (SP) dividiram o protagonismo, acumulando medalhas e confirmando o crescimento da modalidade no país.
Triatlo: o Maranhão celebrou dobradinha dourada com Paulo Marcelo e Milena Bordalo, além do ouro no revezamento misto.
Águas abertas: também dominadas pelo Maranhão, que assegurou os três ouros possíveis.
Ginástica artística, ciclismo, tênis de mesa e xadrez: mantiveram o espírito de renovação dos Jogos, com jovens atletas vivendo a primeira experiência em cenário nacional e mostrando que a base esportiva brasileira segue em expansão.
O papel do Ministério do Esporte
A grandiosidade desta edição só foi possível graças à parceria entre o Comitê Olímpico do Brasil (COB) e o Governo do Brasil, por meio do Ministério do Esporte, com patrocínio via Lei de Incentivo ao Esporte. Desde a cerimônia de abertura, realizada no Centro Internacional de Convenções do Brasil, autoridades reforçaram o compromisso de levar o esporte a todos os cantos do país com qualidade e inclusão.
Representando o ministro André Fufuca, o secretário nacional de Esporte Amador, Educação, Lazer e Inclusão Social, Paulo Henrique Cordeiro, destacou a prioridade de democratizar o acesso: “Uma das preocupações da gestão deste governo é levar o esporte da melhor forma e com a maior qualidade possível, com políticas públicas eficientes e acessíveis na ponta para todo o povo brasileiro.”
A secretária nacional de Excelência Esportiva, Iziane Marques, lembrou que muitos dos jovens que brilharam em Brasília já fazem parte do programa Bolsa Atleta, fundamental para que possam seguir no caminho do alto rendimento. O próprio COB reforçou a importância do evento: nos Jogos Olímpicos de Paris, 37% da delegação brasileira havia passado pelos Jogos da Juventude.
Com esse apoio institucional, os Jogos se consolidam não apenas como a maior competição multiesportiva do país para atletas de até 17 anos, mas como um legado duradouro para o esporte brasileiro, capaz de transformar histórias individuais em conquistas coletivas para toda a nação.