ENTRETENIMENTO

“Você sabe a minha resposta” – LNF

Pela seleção brasileira, Manoel Tobias foi duas vezes campeão do mundo e conquistou sete vezes a Copa América. | Foto: Fernando Morales

Com seis títulos mundiais, o Brasil é com folga o país que mais venceu a principal competição do futsal. Em 2024, a seleção superou a Argentina na final e ficou com a taça do torneio, que foi disputado no Uzbequistão. Após 12 anos, a equipe voltou a subir ao topo do pódio em mundiais.

Apesar da conquista, algumas pessoas reconhecem que o futsal poderia atingir mais pessoas no Brasil. O técnico da seleção Marquinhos Xavier, por exemplo, chegou a pontuar recentemente que a modalidade perde muitas oportunidades de crescer no país. O pensamento é compartilhado por outras personalidades do esporte.

 
 
   

Dentre elas, Manoel Tobias, um dos maiores jogadores da história do futsal, reconhece que a ida precoce de talentos brasileiros ao continente europeu distancia tais atletas do público. O processo acaba por impedir o surgimento de ídolos como ele e Falcão.

Em entrevista exclusiva a Zero Hora, o ex-jogador, que teve passagem vitoriosa pelo Inter e defendeu o Grêmio nos gramados, revelou que não consegue acompanhar as partidas de futsal com regularidade, mas não deixa passar um jogo da seleção brasileira.

Ele ainda pontuou os atletas que mais lhe agradam na modalidade e deu pistas sobre uma das perguntas que mais ouviu na carreira: quem é o maior jogador da história do futsal?

Confira a entrevista

Mesmo aposentado, você segue acompanhando o futsal? Assiste jogos da Liga Nacional? Acompanha algum time específico ou algum atleta?

— Infelizmente, eu assisto pouco por causa da demanda. Mas quando tem jogos da seleção brasileira, obviamente, eu paro para assistir. Arrumo um jeito. De vez em quando eu também assisto o futsal espanhol.

Falcão e Manoel Tobias são vistos como os maiores jogadores da história do futsal. | Foto: Divulgação

— Eu acompanho muito o Pito. Gosto muito do Pito. O Dieguinho, que para mim, sem dúvidas, foi o atleta diferenciado desta seleção brasileira, no último torneio, quando o Brasil resgatou a hegemonia depois de 12 anos que a seleção ficou sem ganhar o Mundial. É um grande trabalho que o Marquinhos Xavier tem feito à frente da seleção brasileira.

Na sua concepção, o Brasil segue sendo a referência do futsal mundial? Que outros países você coloca como grandes expoentes também?

— Eu sei que a responsabilidade não é fácil, eu já vivi isso. Sei que a responsabilidade é grande. Não é difícil você chegar em uma seleção brasileira, o difícil é se manter. Eu fico muito feliz que o futsal continua dando alegrias ao nosso país e aos amantes do esporte. Fora do Brasil, a gente vê o futsal espanhol se mantendo no topo, mas principalmente o futsal argentino que teve uma reviravolta muito grande. A Argentina, nos três últimos mundiais, nesses três últimos ciclos, foi campeão em um e vice em dois. Isso dá muito “know-how” do trabalho maravilhoso que eles estão fazendo. Eles têm uma liga forte, competitiva, e a gente vê com bons olhos. Isso é bom para o esporte.

Apesar do título mundial, o futsal não é mais tão promovido como já foi em outros períodos, principalmente quando a seleção contava com você e depois com o Falcão como referências. Da mesma forma, temos cada vez mais casos de crianças que não começam nas quadras e já pulam para o futebol de campo ou até para o futebol 7. Você também acredita que o futsal perdeu esse prestígio que já teve no Brasil?

— Vamos analisar os dois personagens, que são importantes para o futsal do Brasil e do mundo. O Manoel Tobias teve a carreira onde? Eu joguei 13 anos seguidos aqui no futsal brasileiro. Fui jogar na Espanha quando eu já tinha 33 anos. Quer dizer, a minha carreira foi toda aqui. Foi forjado um ídolo e o ídolo ficou muito tempo. O Falcão é a mesma coisa, ele nunca jogou fora do país. Só jogou aqui. E isso ajudou. O que eu quero dizer com isso? Infelizmente, o Pito, que foi o melhor do mundo em 2024, ele jogou poucas temporadas aqui, passou pela ACBF e já foi para a Espanha. Não teve o tempo de se apresentar, assim como o Ferrão, assim como o Dyego, assim como o Bateria, assim como o Marcênio, que jogou quase 10 anos fora e voltou recentemente. Não se criou um vínculo.

E por qual motivo esses jogadores saem tão cedo para o futsal europeu?

— Infelizmente, o futsal não chegou em um patamar global. Veja bem, hoje o mundo é globalizado, mas o futsal não tem a mesma pegada que o futebol de campo. Muitos atletas da Seleção Brasileira, o próprio Vinícius Jr., jogam há bastante tempo na Espanha. Mas o futebol tem essa pegada global, todo mundo conhece. É mais visto. Infelizmente, o futsal ainda não chegou nesse patamar. Eu vejo que, para se formar ídolos, não só o Manoel Tobias e o Falcão, mas Jackson, Douglas, Ortiz, Serginho, essa galera toda que vieram antes da gente, eles tiveram o mesmo perfil, a mesma oportunidade, ficaram muito tempo jogando aqui. E claro, jogando aqui, em casa, todo mundo vendo os ídolos, claro que vai ficar conhecido e reconhecido.

— A gente torce para o futsal chegar nesse patamar, não igual ao futebol, que é diferente em valores, mídia, enfim. O entorno do futsal é maior que o do futsal. Mas que a gente possa ter a oportunidade, a consciência, de trazer de volta, que é importante manter atletas para que eles possam fazer suas carreiras aqui no Brasil. Só tem um probleminha, o Euro. É muito maior que a nossa moeda, e é por isso que esses jogadores saem prematuramente.

Agora uma pergunta pessoal. Quem é o maior da história do futsal?

— Meu Deus do céu (risos). Essa pergunta eu vou pular. Você sabe a minha resposta, mas para não gerar polêmica eu vou pular essa pergunta. Muitos dizem que sou eu, outros dizem que é o Falcão, outros falam do Ricardinho, mas o importante é que todos nós fizemos a nossa história.