ENTRETENIMENTO

“Os gremistas torceram por mim” – LNF

Manoel Tobias defendeu os dois lados da rivalidade Gre-Nal nos anos 1990. | Foto: Montagem sobre fotos de José Dorval Agência RBS e Agência RBS

Alguns craques já vestiram a camisa de Grêmio e Inter, mas poucos conseguiram o feito em dois esportes diferentes. Um desses casos é Manoel Tobias, lenda do futsal mundial, que fez história nas quadras pelo Inter e teve uma breve passagem pelo Grêmio nos gramados.

No Rio Grande do Sul, a relação do ex-jogador começou quando atuava pela Enxuta, entre 1994 e 1996. A passagem pelo time de Caxias manteve o já consagrado atleta entre os principais da modalidade. O destaque foi tão grande que atraiu o interesse do Grêmio, comandado por Felipão. Na época, o treinador entrou em contato e convenceu Manoel Tobias.

 
 
   

Após quatro meses, ele deixou o Tricolor com um gol marcado em 11 jogos. Prontamente, foi procurado pelo Inter, que contava com uma parceria promissora com a Ulbra no futsal. O craque da seleção brasileira não pensou duas vezes e deu início a um grande período no Colorado.

No clube, foi campeão da Liga Nacional de Futsal, em 1996, e da Copa Intercontinental, em 1997. Na competição mundial, a equipe superou o Barcelona em pleno Gigantinho.
Em entrevista exclusiva a Zero Hora, Manoel Tobias conta como foi a gloriosa passagem pelo Inter no futsal e explica o que sentiu ao defender o Grêmio no futebol.

No Grêmio, Manoel Tobias tentou a carreira nos gramados, mas seguiu no time por quatro meses. | Foto: Ver Descrição

Confira a entrevista:
Sobre a sua passagem no Inter, que não foi longa, mas foi muito marcante. Como foi jogar pelo clube e como se sentiu em Porto Alegre?
— O grande apogeu da minha carreira, sem dúvida nenhuma, foi esse casamento que eu que eu tive com o Internacional. É claro que não foi muito tempo, foram dois anos, mas foram dois anos intensos. Nesses dois anos, a gente conseguiu ser campeão de Liga Nacional, ser campeão mundial, conseguimos ser vice campeão mundial também em Moscou. No ano de 1996, a gente disputou esse campeonato e não conseguiu ganhar, mas em 97, no Gigantinho abarrotado com a torcida do Inter, não tem como não lembrar dessa data, a gente conseguiu ser campeão.
Até quem não é muito ligado ao futsal já ouviu sobre o time do Inter campeão mundial na década de 1990. Como foi jogar ao lado daqueles craques?
— Para mim foi uma honra. Eu falo com um saudosismo mesmo. Aquele time do Internacional tinha nada mais nada menos que o Ortiz, que era um grande goleador, um jogador “cracaço”, não só dentro de quadra, mas fora também. A gente já vinha jogando junto em outras equipes, como a Inpacel, quase sete anos juntos na seleção brasileira. E também tinha o Serginho, que para mim, sem dúvida nenhuma, eu aponto ele como o melhor goleiro de todos os tempos do futsal. Nós tínhamos também um jogador muito, muito importante, que era o Bella, que é daí do Rio Grande do Sul também. Um jogador decisivo. E sem falar do Vaguinho, do Vandré, enfim… Tinha um grande comandante, o PC de Oliveira, que chegou a ser campeão mundial pela seleção brasileira em 2008.
E qual é o legado que aquele time deixa? Você segue tendo uma boa relação com o Inter?
— Eu já parei, já tenho 18 anos que eu parei de jogar. E hoje nós estamos falando disso. O legado fala por si só. Eu virei torcedor do Inter também. Hoje eu acompanho o Internacional. Torço pelo futebol de campo, enfim. Tenho amigos não só no futsal, como eu já falei de alguns, mas também no futebol de campo com o Iarley. Enfim, grandes atletas que também brilharam no futebol de campo, honrando a camisa do Internacional.
E você costuma vir a Porto Alegre? Quando está por aqui consegue sentir o carinho do torcedor colorado?

— A última vez que eu fui aí acho que tem uns três, quatro anos. Alguma coisa assim. Eu acho que mais, se não me falha a memória, acho que mais tempo. Mas esse carinho, eu reconheço. Quando eu saio na rua, o pessoal lembra, fica olhando. Aí depois, “ah, é ele mesmo”. E muitos me agradecem o que eu fiz pelo Internacional quando eu vou aí. O pessoal não esqueceu, até porque não tem como esquecer. O futsal do Rio Grande do Sul é muito forte. Então, tem muita tradição, sempre teve. E eu sou um privilegiado que tive a oportunidade de estar no momento certo. Eu sou muito grato, grato a Deus e ao povo do Rio Grande do Sul, porque acolheu a mim e a minha família com todo carinho.

Manoel Tobias foi o protagonista do melhor período do futsal do Inter. | Foto: José Dorval

Geralmente associamos o Manoel Tobias ao Inter, mas você também teve uma passagem pelo Grêmio nos gramados. Como foi esse período?
— Desde o início, eu não queria ir porque eu já estava com 24 anos, 25 anos, já jogando profissional no futsal desde os meus 18 anos. Sobre essa oportunidade de ir para o Grêmio. Eu já estava jogando na Enxuta e fui mais para não deixar de repente a oportunidade passar. Mas assim, o meu coração mesmo sempre foi, a minha vontade sempre foi jogar futsal. Sempre gostei mais de jogar futsal. Mas foi importante o aprendizado, tudo que eu vivenciei no campo ali naqueles quatro meses que eu passei. Hoje eu tenho amigos, pessoas que de vez em quando eu encontro. E assim, a gente tem uma alegria muito grande quando vê essas pessoas. O próprio Roger Machado, que hoje é técnico do Internacional. Naquela época, eu joguei com ele. Paulo Nunes, Adilson, Dinho, Danrlei, enfim… Essa turma toda aí.

O torcedor gremista ficou bravo com a sua ida ao Inter na sequência?
— De uma situação difícil surgiu a oportunidade, vamos dizer assim, de voltar pro futsal e no rival, que foi o Internacional. E quando eu saí do Grêmio para o Internacional, sinceramente vou dizer a você, eu não senti. Os gremistas torceram por mim. Eu vi quando tinha jogos na seleção no Gigantinho, em Carlos Barbosa. A seleção brasileira ia jogar e a gente via torcedor do Grêmio, do Internacional, torcendo pela seleção e vibrando com as minhas jogadas, com os meus gols, com as vitórias do Brasil.

— Na época, eu consegui, vamos dizer assim, agradar tanto um quanto o outro. Mas eu torço para o Internacional, porque eu me identifiquei e joguei muito mais tempo. Queira ou não queira, a gente foi campeão de coisas importantes. Liga Nacional, Mundial… Enfim, ficou marcante isso aí.
São vários títulos na sua carreira. Além dos que você citou, tem Copa do Mundo e Copa América pela seleção brasileira. Dentre todos eles, tem algum que é o seu favorito?

— Eu quero deixar bem claro que todos os meus títulos que eu consegui conquistar não foram sozinhos, mas com meus amigos, colegas de trabalho. Todos eles são importantes, mas tem dois que são especiais: os mundiais. Você ser campeão mundial pela camisa pesada do Internacional não tem como dizer que não é importante um negócio desses. E eu tenho uma particularidade também, outro título importante foi o de campeão mundial pela seleção brasileira. Nesse mesmo ano de 96, nós conseguimos ser campeões da Liga e, no final do ano, novembro por aí, teve a Copa do Mundo em Barcelona e a gente conseguiu ser campeão. Eu também fui o melhor do mundo pela primeira vez nesse ano, fui artilheiro, então teve um carinho especial.