Revisto em Blu-ray, American Graffiti – no Brasil, Loucuras de Verão -recupera algo que havíamos perdido nas cópias em VHS e mesmo em DVD. Acredito que são as cores vivíssimas dos objetos e ambientes que vemos no filme.
A música também soa mais nítida, apesar de termos áudio em apenas dois canais. É bom revê-lo em casa, mas a magia do cinema e do momento em que o filme foi lançado jamais será devolvida. Está guardada em nossa memória afetiva.
American Graffiti chegou a João Pessoa há 50 anos, no início de 1975. O Cine Municipal exibia O Exorcista, e o público enfrentava filas enormes para ver se o filme que contava a história de uma menina possuída pelo demônio era mesmo tão assustador.
No Cine Plaza, a estreia de American Graffiti não chamava a atenção de muita gente. Poucos quiseram assistir ao segundo filme de um jovem diretor desconhecido chamado George Lucas. O primeiro era a ficção-científica THX 1138.
American Graffiti e THX 1138, alguns anos mais tarde, seriam cultuados por cinéfilos do mundo inteiro. Mais o primeiro do que o segundo. Ninguém podia imaginar o sucesso que o realizador alcançaria, logo depois, com os filmes da franquia Star Wars.
George Lucas dizia que queria ganhar dinheiro com projetos como Star Wars para ter condições de realizar filmes como THX 1138 e American Graffiti.
Não era verdade. Ele ganhou muito dinheiro, transformando-se num grande produtor, mas jamais voltou às suas origens. Seu cinema nunca mais foi como no início. George Lucas não cumpriu a promessa feita na juventude.
THX 1138 é um originalíssimo filme de ficção-científica. É de um tempo em que os filmes de ficção-científica projetavam o homem num futuro que a todos parecia indesejável.
O futuro pode ser sombrio, mas a fotografia tem excesso de branco, a luz é estourada. O inverso das cores vivíssimas da cidadezinha californiana de American Graffiti.
A história que American Graffiti conta se passa numa noite do verão de 1962. Seus personagens são rapazes e moças à procura de diversão. Carros, dança, música, um baile, um “pega”, uma gang. Como em outros lugares do mundo. E em outras épocas.
Claro que há um charme todo especial por causa da trilha sonora. São dezenas de rocks e baladas que marcaram a juventude da segunda metade da década de 1950.
Algumas dessas músicas são ouvidas nos carros através de uma rádio pirata. Seu locutor é uma figura lendária chamada Wolfman Jack. Ele opera a emissora sozinho, e sua voz nasal e metálica se mistura às canções, que ilustram e comentam a ação.
O elenco de American Graffiti tem Richard Dreyfuss, que ficaria famoso como o oceanógrafo de Tubarão, e Ron Howard, que seria o diretor de Cocoon e Apollo 13. E, num papel secundário, quase numa ponta, tem o iniciante Harrison Ford.
Uma vez, participei de um debate sobre American Graffiti. Alguém na plateia disse que estávamos diante de mais uma comediazinha banal que os americanos adoram fazer.
Não concordo. O filme de Lucas é sobre o instante em que trocamos a liberdade juvenil pelas responsabilidades da vida adulta. Tema universal e nada banal.
O crítico Antônio Barreto Neto falava da serena poesia que há no filme. Como na cena da dança com Smoke Gets in Your Eyes, dos Platters. American Graffiti está bem guardado entre as lembranças dos cinéfilos que foram contemporâneos da sua estreia.