Os cigarros eletrônicos, ou vapes, estão cada vez mais populares, especialmente entre os jovens. Mas o que muitos desconhecem é que esses dispositivos podem ser ainda mais prejudiciais do que o cigarro convencional. Além de provocar dependência química em um nível mais elevado, eles expõem seus usuários a uma série de doenças graves, como o EVALI (lesão pulmonar associada ao uso de vapes) e a DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica), uma condição antes associada a idosos, mas que vem atingindo jovens com o uso frequente desses dispositivos.
Por que a dependência química dos vapes é maior?
Os vapes foram inicialmente apresentados como uma alternativa “menos nociva” ao cigarro tradicional. Porém, estudos científicos demonstram que esses dispositivos podem conter níveis extremamente altos de nicotina, além de substâncias químicas que potencializam a absorção da droga pelo organismo.
Concentração de nicotina:
Segundo um estudo publicado no Journal of the American Heart Association, muitos vapes utilizam sais de nicotina, uma forma mais concentrada e rapidamente absorvida pelo corpo em comparação com a nicotina dos cigarros convencionais. Isso leva a picos mais rápidos de dependência.
Quantidade inalável:
Enquanto seria quase impossível para uma pessoa fumar 60 cigarros tradicionais em um único dia, o design dos vapes permite que os jovens usem o dispositivo de forma contínua, consumindo o equivalente ou até mais nicotina.
Falsa sensação de segurança:
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), muitos jovens que utilizam vapes não se consideram tabagistas, subestimando os riscos de doenças cardiovasculares e câncer associados ao uso.
Vapes e a vaporização de maconha: um perigo ainda maior
Além da nicotina, há uma crescente preocupação com o uso de vapes para vaporização de maconha. Os óleos e líquidos utilizados nesses dispositivos podem conter compostos altamente tóxicos, como vitamina E acetato, que está diretamente associada ao desenvolvimento de EVALI.
Um levantamento do Centers for Disease Control and Prevention (CDC) revelou que 80% dos casos de EVALI estavam relacionados ao uso de vapes contendo THC, o principal composto psicoativo da maconha.
O EVALI causa danos graves aos pulmões, incluindo inflamação, dificuldade respiratória e, em casos extremos, morte.
DPOC: uma doença de idosos que agora atinge jovens
A DPOC, tradicionalmente associada a fumantes de longa data e idosos, está sendo diagnosticada em usuários jovens de vapes. Essa doença crônica, que causa obstrução das vias aéreas e dificuldade respiratória, agora aparece mais precocemente devido à exposição prolongada a substâncias químicas inaladas em grandes quantidades.
Um estudo da European Respiratory Journal indicou que jovens usuários de vapes apresentam um aumento de 30% no risco de desenvolver sintomas de DPOC em comparação com não-fumantes.
O mito de que o vape não aumenta o risco de câncer e doenças cardíacas
Muitos usuários acreditam que os vapes não representam riscos significativos para a saúde cardiovascular ou que não têm potencial carcinogênico. No entanto, pesquisas mostram o contrário:
Riscos cardíacos: Um estudo do Journal of the American College of Cardiology destacou que o uso de vapes aumenta em 40% o risco de doenças cardiovasculares, incluindo arritmias, hipertensão e infarto.
Riscos de câncer
O National Cancer Institute (NCI) alerta que os vapores liberados pelos dispositivos contêm substâncias como formaldeído, nitrosaminas e metais pesados, todos conhecidos por seu potencial carcinogênico.
Os vapes, muitas vezes vistos como inofensivos ou menos perigosos, estão criando uma nova geração de dependentes químicos e pacientes com doenças graves que antes eram associadas a idades mais avançadas. A falsa sensação de segurança e a desinformação sobre os riscos reais desses dispositivos estão contribuindo para uma crise de saúde pública que já começa a se desenhar.
Para pais e jovens, o alerta é claro: vapes não são seguros e podem causar dependência severa, doenças pulmonares graves, câncer e problemas cardíacos. Informar-se e buscar ajuda para interromper o uso é essencial para proteger a saúde e o futuro.
Fontes:
- Journal of the American Heart Association
- Centers for Disease Control and Prevention (CDC)
- European Respiratory Journal
- Journal of the American College of Cardiology
- National Cancer Institute (NCI)
- Organização Mundial da Saúde (OMS)
André Telis de Vilela é médico, cirurgião cardiovascular, doutor em medicina pela UNIFESP e professor da UFPB. Colunista de saúde do Jornal da Paraíba, Tv Cabo Branco e rádio CBN.