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Maura Pires lança livro de memória e fala de repressão, prisão na Ditadura e educação libertadora

Maura Pires Ramos, 87 anos, foi presa política torturada pela Ditadura Militar.

A professora paraibana Maura Pires Ramos, de 87 anos, publicou o seu livro de memórias “Vida, Arte e Educação Libertadora”, que foi lançado pela Editora da Universidade Estadual da Paraíba (Eduepb) e está disponível em sua versão digital.

O livro tem 374 páginas e pode ser baixado gratuitamente no portal da editora na internet. Dentre os muitos selos lançados pela editora, o livro de Maura foi lançado pelo selo Latus.

 
 
   

+Eu tenho muito viva todas as sensações: presa política da ditadura relembra tortura na Granja do Terror

Maura Pires Ramos é uma conhecida professora de Campina Grande, na Paraíba, que por muitas décadas foi a dona e diretora da Escola Pequeno Príncipe, a primeira da cidade a adotar uma postura mais progressistas no ensino das crianças e a abolir, por exemplo, o ensino religioso em sala de aula.

Em seu livro, por exemplo, ela destaca que adotou na escola o Método Montessori na Educação Infantil, que consiste na promoção da autonomia e da liberdade individual das crianças.

Livro de memórias de Maura é publicado pela Eduepb. Eduepb

A professora e escritora ficou conhecida também por ter sido presa e torturada na época da Ditadura Militar. Presa uma primeira vez em 1968, durante o famoso Condresso da UNE de Ibiúna, em São Paulo, presa uma segunda vez em abril de 1974, sendo que foi nesta vez que ela foi torturada.

A Ditadura Militar, por sinal, é um dos temas abordados no livro. Ela escreve que naquela época de 1974 foi vítima de um “sequestro político”, quando policiais federais sem mandados judiciais a levaram primeiro à chamada Grança do Terror (localizada na zona rural de Campina Grande) e depois para o Doi-Codi de Recife, capital de Pernambuco.

Sobre as experiências vividas na Grança do Terror, ela escreve no livro:

Obrigaram-me a me despir e aplicaram choques elétricos nos meus seios, orelhas e rins, sempre fazendo as mais infames ameaças. Até hoje não tenho ideia de quanto tempo durou esse tormento.

Maura Pires Ramos – professora

Ainda com relação à Ditadura Militar, Maura relembra também de suas experiências na Comissão da Verdade, quando prestou depoimentos sobre todos os sofrimentos dos quais foi vítima na época.

O livro, no entanto, não se resume a essa época. e trata muito fortemente de suas experiências educacionais enquanto militante do que ela chama de “educação libertadora”.

Maura quando foi presa e fichada pelo DOI-Codi em 1968. Maura quando foi presa e fichada pelo DOI-Codi em 1968

O professor Rangel Júnior, ex-reitor da UEPB e que assina o prefácio da obra, destaca essa centralidade da educação no livro. E destaca: “A Escola Pequeno Príncipe foi a síntese, na prática, de uma obra educacional. Foi precursora de mudanças importantes em aspectos que só viriam a se tornar rotina muito tempo depois, como o tema de enfrentamento ao preconceito”.

Para além das memórias de Maura sobre educação, política, militância e terror estatal na época da Ditadura Militar, o livro traz também uma série de depoimentos de pessoas que passaram pela vida da professora. Sempre permeado com fotos dos diferentes períodos retratados ao longo da obra.