A atriz britânica Olivia Hussey, de 73 anos, morreu nesta sexta-feira, 27 de dezembro de 2024. A Julieta Capuleto do Romeu e Julieta de Franco Zeffirelli tinha câncer.
Há pelo menos uma geração – e faço parte dela – que foi arrebatada pelo Romeu e Julieta de Franco Zeffirelli. O filme e tudo o que ele tem de belo. O Romeu de Leonard Whiting, a Julieta de Olivia Hussey, o Teobaldo de Michael York.
O Romeu e Julieta de Zeffirelli tem a música de Nino Rota, o compositor preferido de Federico Fellini, o cara que mais tarde escreveu os temas de O Poderoso Chefão.
A música de Nino Rota é o que se ouve na extensa e deslumbrante sequência do baile na casa da família Capuleto, onde Romeu e Julieta se conhecem.
Não só o chamado “tema de amor”, popularizado fora da tela com outra letra e o título de A Time For Us, mas também a música que os convidados dançam em círculo.
Tão deslumbrante é ver Leonard Whiting e Olivia Hussey fazendo a cena do balcão ou, lá na frente, seus corpos nus após a primeira noite de amor e antes da partida de Romeu.
Estive uma vez com Bárbara Heliodora num estúdio de televisão. Heliodora, tão conceituado quanto temido nome da crítica de teatro, tradutora de Shakespeare.
Conversamos sobre Shakespeare no cinema. Quis saber das suas preferências. O Hamlet de Olivier, o Macbeth de Polanski, o Romeu e Julieta de Zeffirelli.
Franco Zeffirelli vinha do teatro e da ópera, namorara Luchino Visconti e, no cinema, se projetara dirigindo o casal Taylor/Burton em A Megera Domada.
Quando decidiu fazer Romeu e Julieta, Franco Zeffirelli fez questão de que o casal de atores tivesse idades próximas às das personagens da história original.
Na época das filmagens, em 1967, Leonard Whiting, nascido em 1950, estava com 17 anos. Olivia Hussey, nascida em 1951, tinha 16 anos. E eram belos demais.
O filme, que levou multidões aos cinemas, tanto era fidelíssimo ao texto de Shakespeare quanto dialogava muito bem com o público jovem do tempo em que foi lançado.
Ao longo de anos, vi Romeu e Julieta em várias salas. Nada comparável à experiência, em dezembro de 1974, de vê-lo projetado na tela gigante do Cine Veneza, no Recife.
A morte de Olivia Hussey recupera essas lembranças, que não são só do filme de Franco Zeffirelli, mas do tempo em que fui apresentado a ele.
Mas a morte de Olivia Hussey também faz a gente pensar no fato de que o sucesso de Romeu e Julieta não garantiu a ela uma carreira exitosa.
Ainda vimos Olivia em Horizonte Perdido, musical de 1973. E no seu retorno a Franco Zeffirelli, que, em 1977, a transformou na Virgem Maria em Jesus de Nazaré.
O Romeu e Julieta de Franco Zeffirelli é arrebatadora exaltação ao amor juvenil. É como quero guardar na memória afetiva o talento, a beleza e a juventude de Olivia Hussey.