“Esse é meu único arrependimento”, lamentou Falcão ao apagar as luzes da carreira mais extraordinária que o futsal já viu e, provavelmente, verá. A máquina de emoção brasileira estava se referindo a um chute para fora após um drible alucinante — ele de alguma forma desafiou oito vezes em sete segundos — contra a Espanha em 2004. Agora, no entanto, Falcão tem outro arrependimento. De repente, no entanto, há uma nova adição à lista de arrependimentos de Falcão. Brasil e Argentina conquistaram vitórias nas semifinais do Uzbequistão 2024 para preparar a mãe de todas as finais da Copa do Mundo de Futsal da FIFA e levar Falcão a uma realização.
“Eu adoraria jogar uma final de Copa do Mundo entre Brasil e Argentina”, ele admitiu. Falcão fala à FIFA sobre a rivalidade entre as superpotências sul-americanas, seu heroísmo na partida na Tailândia 2012, os principais jogadores do Brasil neste torneio, o melhor argentino que ele já viu e o que ele espera da final de domingo em Tashkent.
O Brasil perdeu para a Espanha em duas Copas do Mundo seguidas. Você pode explicar como foi vencer a Espanha, diante de um Maracanãzinho lotado, na final de 2008?
Minha primeira Copa do Mundo foi em 2000. Perdemos para a Espanha. Depois, em 2004, em outro grande jogo, acabamos perdendo. Em 2008, fomos obrigados [a vencer] porque estávamos jogando em casa, vínhamos de duas derrotas. Então, aquele título em 2008 foi muito importante para a minha geração. Depois, em 2012, na Tailândia, também. Esses dois triunfos foram muito importantes para nós.
Você teve que esperar até sua terceira Copa do Mundo para ganhar o título. Como foi esperar por esse título tão cobiçado?
Foi uma longa espera. [A Copa do Mundo] é só a cada quatro anos. Em 2000, éramos extras na seleção nacional. Em 2004, já éramos os jogadores principais. Em 2008, era vida ou morte. Muitos jogadores — eu inclusive — disseram que iriam deixar a seleção se perdêssemos, porque era uma geração de frustração, derrota. Então, era muito importante vencer, e também nos deu força para vencer em 2012.
Você ficava mais nervoso jogando as grandes partidas da Copa do Mundo ou assistindo a elas?
Assistir você não pode fazer nada. Você é apenas um torcedor. Quando você joga, você tem aquele frio na barriga, aquele senso de dever. Você fica nervoso por dias dentro do hotel até o jogo começar. Quando o jogo começa, você pode desligar um pouco disso. Estando fora da quadra, você é um dos milhões de torcedores. Jogando, você é diretamente responsável pela felicidade ou tristeza de muitas pessoas.
O que você acha da rivalidade entre Brasil e Argentina?
Quando está dentro dos limites normais, é muito importante e benéfico para o esporte. Quando passa do limite, fica chato e feio. Eu mesmo já fui à Argentina em algumas ocasiões. Só tenho boas lembranças. Sempre fui muito bem tratado na Argentina. No ano em que parei de jogar, fui para a Argentina para jogar no Brasil-Argentina. Toda vez que eu ia, todo mundo se levantava para me aplaudir – 7.000 ou 8.000 pessoas na arena. Então as lembranças que tenho são muito boas. Esta final Brasil-Argentina, quem vencer terá direitos eternos de se gabar, e para quem perder será o oposto. Mas acho que Brasil-Argentina, dentro dos limites normais, é muito legal e o mundo inteiro admira essa rivalidade. Agora, pela primeira vez na história de qualquer esporte relacionado ao futebol, teremos uma final de Copa do Mundo entre Brasil e Argentina. É uma final que eu gostaria de ter jogado. Infelizmente, não aconteceu. Então, para esta geração, tanto para o Brasil quanto para a Argentina, aproveite o momento.
Nas quartas de final da Tailândia 2012, o Brasil estava perdendo por 2 a 0 para a Argentina com apenas sete minutos restantes. O que você acha dessa incrível virada?
Acho que é o jogo mais memorável da minha carreira. Eu me machuquei no nosso primeiro jogo, Brasil contra Japão. Eu não sabia se eu iria me recuperar. Eu entrei no jogo contra o Panamá, no jogo anterior, e fiz um gol, mas se você olhar as imagens, você pode ver que eu estava mancando um pouco. A comissão técnica não contava comigo, e eu também não contava em jogar. Aí a Argentina fez 1 a 0, a Argentina fez 2 a 0. Quando faltavam 10 minutos, eu senti aquela adrenalina do jogo. Meus companheiros estavam me perguntando [como estava a lesão] e eu disse que nem lembrava. O técnico Marcos Sorato, junto com o Vander, também vieram até mim. Eu disse: ‘Deixa eu entrar’. Assim que eu entrei, um torcedor veio me abraçar. Eu estava com um olho fechado e, quando o torcedor foi me abraçar, ele me deu um cutucão no outro olho. Eu não conseguia enxergar nada. Saí, coloquei um colírio e, quando voltei, Neto fez nosso primeiro gol. Faltando poucos minutos, fiz 2 a 2. Depois, na prorrogação, fiz 3 a 2. Até os argentinos me dizem: “Chegamos a três finais consecutivas de Copa do Mundo. Deveríamos ter sido quatro, mas vocês não deixaram!” Esse respeito é muito legal. Se ao menos fosse uma final. Você consegue imaginar se essa história acontecesse em uma final de Copa do Mundo? Mas para mim foi como uma final. Isso nos manteve no caminho para jogar contra a Espanha na final. As memórias que tenho do Brasil x Argentina são as melhores possíveis. A final dos Jogos Pan-Americanos em 2007, muitas outras finais. Acho que a Argentina é a seleção que mais encontrei e tenho muito respeito por eles.
O que você acha da campanha do Brasil até agora?
Teoricamente, o Brasil teve uma campanha mais fácil. O Brasil teve que jogar um jogo duro na semifinal, e agora tem outro na final. A Argentina, desde a fase de grupos, vem matando leões um por um. Teoricamente, eles chegarão à final mais cansados, embora mais preparados. O Brasil tem mais lesões; a Argentina está em melhor forma com lesões. O Brasil é tecnicamente melhor; a Argentina é melhor coletivamente. O que uma seleção tem mais, a outra compensa com outra coisa. Acho que está muito equilibrado. O Brasil vai jogar com menos jogadores, e isso faz diferença, mas o Brasil tem uma técnica muito melhor. Acho que é 50-50. Vai ser um grande jogo e tenho certeza de que todos vão gostar muito.
Você jogou ao lado do Lino. O que você acha do Lino como jogador?
Tecnicamente Lino faz a maior diferença na seleção, junto com Dyego. Pito está machucado. Se ele puder jogar, Pito estará ao lado deles também. Lino pode desequilibrar os oponentes em um contra um, ele é muito rápido. Se ele estiver confiante de que um jogo vai ser dele – o mesmo vale para Dyego – tecnicamente ele pode fazer a diferença nele.
O Brasil teve muitos destaques nesta Copa do Mundo, mas para você qual foi o maior destaque?
Esta Copa do Mundo tem sido sobre momentos. Tivemos o momento de Marcel na fase de grupos, o momento de Dyego no jogo mais difícil. Isso sem contar Willian quando ele foi chamado, Guitta quando ele entrou contra a Ucrânia no momento mais decisivo. Ele fez três, quatro defesas que todos esperam que Guitta faça. Para mim, por muitos anos, ele foi o melhor goleiro do mundo. Individualmente, acho que tivemos o momento de Marcel, que é o maior artilheiro da Copa do Mundo, um momento especial de Dyego no momento certo e também o momento de Guitta quando a partida estava no seu momento mais decisivo. Meus destaques seriam Marcel na fase de grupos, Dyego em um momento decisivo, e os últimos 10 minutos de Guitta foram fundamentais.
Quem foi o melhor jogador argentino que você já viu na vida?
Acredito que seja Borruto pelo número de Copas do Mundo que ele jogou, pela experiência que ele tem. Acho que ele foi a cinco Copas do Mundo, o mesmo número que eu. Borruto é aquele tipo de jogador que marca, ataca, corre, é como uma formiga que vai para todo lado. Ele continua jogando em alto nível hoje. Não especificamente nesta Copa do Mundo, mas acho que historicamente Borruto é um jogador de referência no futsal argentino.
Os goleiros são cruciais nas finais. Primeiro, o que você acha de Nico Sarmiento?
Sarmiento vem crescendo muito a cada ano. Em 2016, quando a Argentina foi campeã, ele foi fundamental. Foi um dos maiores destaques, se não o maior. Em 2021 também, com a Argentina chegando à final. Perderam por 2 a 1, mas ele se destacou durante toda a Copa do Mundo. Agora, mais uma final e ele está no gol da Argentina. Nenhuma seleção chega a três Copas do Mundo sem um goleiro que faça a diferença. Sarmiento jogou no Brasil. Isso o ajudou a se desenvolver muito. A Copa do Mundo é a competição dele. Ele fez três Copas do Mundo impecáveis.
E Willian e Guitta?
Willian e Guitta têm dividido minutos. Sou muito fã do Guitta. Joguei ao lado do Guitta por muitos anos. Joguei contra o Willian. Eles são ótimos goleiros, assim como o Roncaglio. Os dois servem muito bem o Brasil. Sou muito fã do Guitta por ser tão completo: joga com os pés, com as mãos, faz defesas impossíveis. Acho que essa é a grande questão para essa final: quem vai jogar, Willian ou Guitta? No meu grupo [do WhatsApp] com meus amigos, é isso que todo mundo está perguntando. Eles têm características um pouco diferentes, mas não importa quem jogue, o Brasil estará em boas mãos.
Leozinho trocou o futsal pelo futebol. Você gostaria de vê-lo voltar às quadras?
Eu faria. Acho que futsal é o jogo do Leozinho. Conversei muito com ele. Já faz dois anos com o Leozinho. Ele pode estar aqui nesta Copa do Mundo. Acho que este é o ano em que ele vai escolher se vai continuar no futebol ou voltar ao futsal. Se nada de grande acontecer até o final do ano, acho que ele vai voltar ao futsal. Mas como amigo dele, eu só tenho que encorajá-lo, seja no futebol ou no futsal. Mas o futsal precisa muito dele.
O que você espera da final de domingo?
Acho que é uma final histórica. Brasil-Argentina nunca aconteceu em futebol, futebol de areia ou futsal em uma Copa do Mundo. É uma rivalidade global, todo mundo gosta de ver Brasil-Argentina. Estou muito feliz de estar vivenciando isso de perto. Estou feliz pelos jogadores, pela comissão técnica, pelos argentinos também. Vai ser um dia histórico, duas, duas horas e meia históricas para o futsal. O que vier, melhor ainda. O Brasil tem coisas que a Argentina não tem, e a Argentina tem coisas que o Brasil não tem. Isso equilibra muito as coisas. Acho que é 50-50, mas, como brasileiro, espero que seja 51 para o Brasil e que o Brasil possa ser campeão.