A perspectiva ainda nebulosa sobre o rumo das taxas de juros dos EUA deve manter os emissores brasileiros longe de Wall Street. Empresas que planejam se listar nas bolsas de Nova York, como a rede de churrascarias Fogo de Chão, têm postergado os planos à espera de ambiente menos hostil, que esvaziou o principal palco de ofertas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês) do mundo.
Até o início de dezembro, somente 167 aberturas de capitais foram realizadas nos EUA, um tombo de mais de 80% em relação a 2021, aponta a consultoria norte-americana Dealogic. O volume financeiro, por sua vez, desabou 93%, para cerca de US$ 21,76 bilhões, na mesma base de comparação. Assim, os EUA perderam a liderança em IPOs para a China.
Para emissores brasileiros, o último IPO foi o do Nubank, em dezembro de 2021. Neste ano, a única oferta feita em Wall Street foi capitaneada pela Pátria Investimentos, que levantou US$ 230 milhões por meio de uma empresa de propósito específico (Spac, na sigla em inglês). Em 2021, houve nove listagens de brasileiros nos EUA, segundo a Dealogic.
Por trás dos números está a dúvida quanto ao rumo dos juros básicos nos EUA. As taxas saíram de zero para o intervalo de 4,25% a 4,5% ao ano, no aperto monetário mais rápido em décadas. Em sua última reunião do ano, o Federal Reserve (Fed, BC americano) moderou o aumento de juros nos EUA para 50 pontos-base, mas sinalizou que as taxas ainda devem subir e ser mantidas em patamares elevados. “Não nos veria considerando cortes de juros até que o comitê esteja confiante de que a inflação está caindo para 2% de forma sustentada”, disse o presidente do Fed, Jerome Powell, após a última decisão da instituição.
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Diante deste cenário, a lista de desistências de possíveis IPOs de emissores brasileiros cresceu ao longo do ano. Além da Fogo de Chão, a bandeira de cartões Elo, a fintech de empréstimos Creditas, a plataforma de conteúdos Hotmart e a empresa de pagamentos Ebanx adiaram o sonho de tocar o sino de Wall Street.
O presidente do Goldman Sachs, David Solomon, disse que o ambiente é de “incertezas”, em recente conferência promovida pelo banco. O banqueiro afirmou que a retomada no setor ainda não aconteceu. Em sua visão, o mercado terá de se acostumar com novos valores de avaliação dos ativos.
Nesse cenário, uma alternativa para emissores brasileiros foi se listar sem uma captação de recursos como fizeram empresas como a Eve, startup de carros voadores elétricos da Embraer, que se fundiu com uma empresa “cheque em branco” já listada. Já o Banco Inter apenas migrou da B3 para Wall Street. Mesmo sem trazer dinheiro novo, a estratégia tem suas vantagens: “Dá mais visibilidade ao papel e permite que grandes investidores possam se posicionar no nome”, afirmou o presidente do banco Inter, João Vitor Menin, após listagem na Bolsa de Nova York (Nyse), em junho deste ano.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.