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Putin tenta ditar paz em seus termos após anexar parte da Ucrânia


Putin tenta ditar paz em seus termos após anexar parte da Ucrânia

Considerando isso um fato consumado, disse que está aberto para negociar a paz em seus termos, desde que Kiev aceite um cessar-fogo unilateral

Por Folhapress Publicado 30/09/2022 O presidente da Rússia, Vladimir Putin, no Palácio do Planalto, em Brasília (DF), durante visita ao Brasil. (Foto: Renato Costa/FramePhoto/Folhapress)

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, formalizou nesta sexta-feira (30) a anexação de quatro regiões da Ucrânia que controla total ou parcialmente desde que invadiu o país vizinho, em 24 de fevereiro. Considerando isso um fato consumado, disse que está aberto para negociar a paz em seus termos, desde que Kiev aceite um cessar-fogo unilateral.

Em um discurso para membros da elite russa no pomposo salão São Jorge, no Grande Palácio do Kremlin, o presidente voltou a insinuar o uso de armas nucleares para defender suas novas possessões. “Usaremos todos os meios necessários”, afirmou, enquanto repassou seu discurso tradicional em que pinta a Rússia como vítima de uma conspiração ocidental.

 
 
   

Com efeito, o império comunista finado em 1991 esteve no centro da fala. Putin voltou a lamentar os efeitos de sua dissolução. “Não há mais União Soviética, não podemos voltar ao passado”, disse, enquanto anunciava “quatro novas regiões russas”. “São parte da Rússia para sempre.”

E culpou o Ocidente pela guerra, já que “buscou expandir a Otan para o leste” e “quebrou acordos de controle de mísseis [nucleares]”, verdades pelo valor de face, mas direcionadas para o contexto pretendido pelo russo.

Putin disse que “o Ocidente quer nos enfraquecer” e que os Estados Unidos travam uma “guerra híbrida”, sugerindo precedente para o uso da força atômica. Chamando as regiões pelo nome nacionalista de Nova Rússia, ele disse que “não vamos discutir” mais o status, mas convidou Kiev a baixar armas e voltar à mesa de negociação. “Estamos preparados para isso”, afirmou.

Em um comunicado em vídeo, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, rebateu: “É óbvio que isso é impossível com esse presidente russo, que não sabe o que é dignidade e honestidade. Assim, estamos prontos para dialogar com a Rússia, mas com outro presidente”.

A anexação ocorre no pior momento do russo no conflito, e após ele ter se consultado com o aliado Xi Jinping enquanto enfrenta crises subjacentes na antiga periferia soviética, que considera seu quintal: conflitos renovados entre Armênia e Azerbaijão e as escaramuças entre Tadjiquistão e Quirguistão.

Na presença dos líderes separatistas por ele indicados e sob a sombra de mais uma ataque mortífero na guerra, o presidente assinou quatro decretos separados de anexação, após completar o lustre burocrático e legalista que sempre dá a atos de seu governo, sejam eles legítimos ou contestados.

As quatro áreas, cerca de 15% da Ucrânia, fizeram às pressas referendos pedindo a adesão, vistos como farsas.

Na noite de quinta-feira (29), reconheceu formalmente as regiões de Kherson e Zaporíjia, no sul ucraniano, como Estados independentes. Ele havia feito o mesmo às vésperas da invasão de fevereiro com as autoproclamadas repúblicas populares de Lugansk e Donetsk, que compõem o Donbass (bacia do rio Don, o leste russófono no centro do conflito).

Diferentemente daquelas, as novas regiões não estavam nas mãos, ainda que parcialmente, de separatistas pró-Rússia. O Donbass estava dividido desde 2014, quando começou a guerra civil que seguiu a anexação russa da Crimeia, primeira etapa do projeto de Putin de evitar que a Ucrânia caísse na esfera ocidental -seu aliado Viktor Ianukovitch havia sido derrubado em Kiev.

Agora, a Federação Russa ganha mais quatro membros, elevando para 89 o número de entes federais sob o comando de Moscou. Eles somavam, antes da guerra, mais de 7 milhões de habitantes, mas é impossível saber quantos deles serão incorporados aos 146 milhões de russos. Contando a Crimeia, no papel Putin absorveu 22% do vizinho.

Não haverá reconhecimento da ONU ou da comunidade internacional, e Putin não liga: a Crimeia também só teve sua anexação validada por seis países laterais e aliados do Kremlin (Cuba, Venezuela, Síria, Coreia do Norte, Afeganistão e Nicarágua) e três encraves pró-Rússia (Abkházia e Ossétia do Sul, na Geórgia, e Nagorno-Karabakh, no Azerbaijão).

Zelenski já disse que continuará sua luta até reconquistar todo o território ucraniano; o secretário-geral da ONU, António Guterres, chamou a anexação de ilegal, e líderes ocidentais, o americano Joe Biden à frente, a denunciaram como criminosa.

Diferentemente da Crimeia, conquistada sem um tiro após um referendo apoiado por tropas russas infiltradas, contudo, o movimento de agora se dá em meio a uma guerra que ameaça se espalhar pelos vizinhos. A posição militar de Kiev é outra também, com bilhões de dólares em equipamento ocidental e melhor treinamento e experiência.

Exemplo disso é o cerco que se forma em Liman, cidade de Donetsk que está sob ataque ucraniano desde que Zelenski recuperou quase a totalidade de Kharkiv, no nordeste do país, no começo deste mês. A administração russa na região fala em “semienvelopamento” das forças do Kremlin lá, o que parece dar margem ou a um recuo vergonhoso ou a uma batalha suicida.

O líder separatista de Donetsk, Denis Puchilin, admitiu que “os ucranianos estão fazendo o possível para estragar nossos eventos históricos”. “São notícias muito desagradáveis, mas temos de olhar com sobriedade e tirar conclusões de nossos erros”, afirmou, com inusual candura.

É a famosa água no chope na festa de Putin, que incluiu uma praça Vermelha cheia de cidadãos para ver em telões o presidente formalizar seu ato imperial. Segundo a reportagem ouviu de moscovitas, funcionários de hospitais e repartições públicas foram convocados a comparecer e levados de ônibus ao evento, que contou com show de música.

O caso de Liman lembra que Putin promove a maior anexação à força na Europa desde que Adolf Hitler marchou sobre o continente e o perdeu depois, na Segunda Guerra Mundial, mas não tem total controle sobre suas novas terras. Em Donetsk, principalmente, os russos comandam cerca de 60% do território.

Segundo relatos, o clima é de apatia na capital russa. Um funcionário de banco de investimento conta que, até a guerra, um russo médio teria dificuldade de apontar Zaporíjia no mapa e que a fama do Donbass era semelhante à da americana Detroit: um antigo centro industrial em decadência. O Kremlin já banca quase R$ 8 bilhões anuais para manter o governo da Crimeia, e terá de desembolsar bem mais agora.

O resto é o jogo desenhado desde o anúncio das anexações, que veio após as derrotas em campo de setembro. Putin agora ameaça usar armas nucleares contra quem invadir o que considera parte da Rússia e prossegue com sua impopular mobilização de 300 mil reservistas, que visa garantir pessoal para manter seu esforço de guerra.

A ação pode também abrir caminho para que o Kremlin decida pelo fim da guerra em termos que considera satisfatórios, já que o admitido objetivo de derrubar Zelenski fracassou na aurora do conflito justamente por táticas falhas e falta de soldados.

Como Putin em si sempre falou em termos genéricos sobre as metas, aquela que seu porta-voz revelou na semana passada (conquistar ao menos Donetsk) pode ser a linha de corte.

Ou não, como temem os vizinhos da Ucrânia, preocupados com a eficácia do aumento da pressão de Putin sobre as maiores economias europeias, por meio do fechamento das torneiras de gás russo durante o inverno no continente e, agora, com o nebuloso ataque aos megagasodutos russos no mar Báltico.

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