Os 90 anos de uma linda mulher

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El Cid é de 1961. Na infância, em algum momento da década de 1960, fui duas vezes ao Cine Plaza ver o filme de Anthony Mann. É meu preferido entre os três grandes épicos estrelados por Charlton Heston – os outros são Os 10 Mandamentos e Ben-Hur.

El Cid conta a história do herói espanhol Rodrigo Diaz de Bivar. El Cid é Charlton Heston. Ximena, sua noiva e depois sua mulher, é Sophia Loren, então com 27 anos.

El Cid comanda e vence a batalha morto, amarrado sobre seu cavalo. Sua história me fascinou. Não menos do que a beleza de Sophia Loren no papel de Ximena.

Tudo em Sophia Loren é muito, e daí vem a beleza dela – me disse uma amiga que descende de italianos. Muita boca, muito nariz, muito olho, muita perna, muito peito, muita altura. Tudo é muito na beleza de Sophia Loren.

Sophia Loren é Sofia Costanza Brigida Villani Scicolone, nascida em Roma no dia 20 de setembro de 1934. Na sexta-feira passada, completou 90 anos.

Na infância, vi outro épico estrelado por Sophia Loren: A Queda do Império Romano. Mas não tinha idade para ver Felizes Para Sempre nem A Condessa de Hong Kong.

A Condessa de Hong Kong (1967), que só vi mais tarde, é o último filme dirigido por Charles Chaplin. Sophia Loren contracena com Marlon Brando.

Os Girassóis da Rússia (1970) e O Homem de La Mancha (1972), vi na época. No primeiro, Sophia Loren e Marcello Mastroianni dirigidos por Vittorio De Sica. No segundo, ela contracenando com Peter O’Toole no musical dirigido por Arthur Hiller.

Peter O’Toole é Dom Quixote. Sophia Loren é Dulcineia. The Impossible Dream – música e letra – marcou o filme. Vertida para o português por Chico Buarque, no Brasil virou Sonho Impossível e teve em Maria Bethânia sua intérprete definitiva.

Sophia Loren brilhou nas comédias italianas. Brilhou quando dirigida por Vittorio De Sica e quando contracenou com o extraordinário Marcello Mastroianni.

Mas, se o assunto é a parceria com Mastroianni, nada me impressionou tanto quanto Um Dia Muito Especial, que Ettore Scola realizou em 1977. Não é uma comédia como os clássicos Ontem, Hoje e Amanhã e Matrimônio à Italiana, mas um drama belo e trágico.

Em Um Dia Muito Especial, Marcello Mastroianni tinha 53 anos. Sophia Loren tinha 43. Ela é Antonietta, que fica sozinha em casa enquanto o marido e os filhos vão à parada que marca a visita de Hitler a Roma, em 1938. Ele é Gabriele, um radialista homossexual, que logo é preso pelo regime fascista de Benito Mussolini.

Antonietta e Gabriele se encontram no prédio em que moram. O som do rádio dá conta da recepção de Mussolini a Hitler. Ela e ele cruzam seus destinos e suas solidões.

O que mais guardo de Sophia Loren está em dois dos seus filmes. Em El Cid, me encanta a beleza estonteante da juventude. Em Um Dia Muito Especial, me impressiona a beleza igualmente arrebatadora da mulher madura. Junto do que há de belo nela, contemplo o excepcional talento de uma das atrizes mais marcantes do seu tempo.